quinta-feira, 5 de junho de 2008

Do quero tudo feito ao quero fazer tudo?

Sendo assim, concluiu-se que a Internet é apenas a remediação dos outros mass media, conservando de certa maneira a comunicação para as massas, mas introduzindo a interactividade que permite que as massas também comuniquem, mesmo que já mediadas. Por outro lado, vê-se que a interactividade, se alargada a todos os campos da vida humana pode ser saturante e mesmo frustrante, invertendo uma sociedade que gosta de comprar tudo já feito, para a transformar numa nova sociedade que é obrigada a fazer tudo, só para que, cada uma das coisas seja exactamente à sua medida. Tal hipótese não parece provável, pelo menos a curto-médio prazo.

Novos Media - Quantos são?

Passando agora para a segunda parte do ensaio, vemos que é comum falar-se de novos media. Acontece que não se encontra mais do que um novo meio. A Internet, o computador, esteja ele disseminado por quantos aparelhos for. Isto é, a única novidade foi a introdução da interactividade nos antigos media, através do computador e da ligação à Internet, pelo que nem de novo meio se pode chamar, mas sim de uma remediação[1] dos meios anteriores.De resto, sendo um computador, um telemóvel ou uma consola, todos eles são apenas computadores com Internet, em formatos distintos, mas com objectivos semelhantes.
[1] David Bolter - Remediation

Interagir, interagir, interagir...

Por este motivo, penso que a Internet veio colmatar a vontade da população de sentir que tem uma voz activa e livre (mesmo que ninguém a ouça), servindo também como um importante espaço de reflexão onde cada um deixa os seus pensamentos e encontra pessoas com sentimentos e interesses similares. Contudo, a necessidade de interagir não passou a ser, subitamente, a única necessidade humana de tal forma que não queiramos que nenhuma parte da nossa vida exista se não formos nós a produzi-la. É pela nossa vontade de encontrar um equilíbrio que a Internet foi bem-vinda e é pelo mesmo motivo que os antigos media continuam a ser os media de hoje e os de amanhã.

Sair do sofá, sempre?

Por outro lado, embora a Internet, com os seus blogs e fóruns, cause muita euforia e vontade de participar, esta euforia não chega com metade da intensidade no que diz respeito às artes digitais. A ideia de que a arte possa ser usada e manipulada pelos anteriores espectadores é algo estranho. Não deixa de provocar curiosidade e provavelmente vai ser um género de arte que vai florescer no futuro, sem, contudo, tirar lugar às outras formas de arte, mais convencionais.Da mesma forma, a Internet não vai tirar o lugar aos outros meios de comunicação, já que não parece provável que o ser humano deseje e aguente ser constantemente solicitado a fazer acontecer tudo à sua volta. No nosso dia-a-dia já temos de tomar as decisões e actuar para que a vida siga em frente do modo que desejamos, temos de agir para ganhar dinheiro e agora, também temos de agir nos momentos de lazer e descontracção. Mas sempre? Será que o ser humano abdicará do prazer de ver um filme no cinema, ouvir uma música na rádio, saber as notícias do mundo pela televisão, deitar-se no sofá em frente a este aparelho e deixar-se engolir por cada um deles sem ter de fazer absolutamente nada a não ser carregar num botão para que comece? Na minha opinião, somos demasiado sedentários para isso, além de que seria exaustivo ter de criar os nossos próprios momentos de descanso, aqueles em que não queremos fazer nada.

Os Media e o sistema de validação mútua

Logo aqui encontra-se um ponto de destaque em relação aos antigos media, já que estes comunicavam a partir de uma fonte única para as massas. Porém, é manifesto que os meios de comunicação funcionam como um todo, validando-se mutuamente e gerando a crença de que as informações que neles são transmitidas são fidedignas, por surgirem em fontes tão diferentes como a rádio, os jornais e a televisão. Ora como o ser humano não é um ser isolado, mas mediado quer pela sua própria percepção dos acontecimentos e sobretudo pelos meios de comunicação, não é de esperar que o indivíduo que dá a sua versão dos factos na Internet vá dizer algo de completamente novo. O seu testemunho é apenas mais uma mediação da realidade e mais uma confirmação do que todos os outros meios dizem. Assim, a Internet, mesmo sendo um meio onde qualquer um pode deixar a sua opinião e mostrar o que considera verdadeiro, ou até por isso mesmo, ajuda ainda mais na confirmação das informações passadas nos outros media, funcionando como reforçadora dos mass media, o que a torna, de certo modo, num deles.

Internet, mais um meio de comunicação para as massas?

Começa-se por questionar se a Internet não será, em certo sentido, mais um meio de comunicação de massas. Isto porque, embora os meios de comunicação anteriores fossem direccionados para espectadores passivos, que se limitavam a assistir e a absorver a informação e tudo o resto que lhes era colocado à frente, actualmente não parecem existir assim tantas diferenças efectivas.
Se repararmos bem, a Internet é usada tanto para participar como para exercer uma atitude de voyeur, observando tudo o que se passa na rede. Neste sentido, este novo meio destaca-se dos restantes por permitir a interactividade, o acesso directo do indivíduo ao meio de comunicação de que pode agora tomar parte activa. Mas não deixa de ser um espaço onde qualquer pessoa, e todos nós, pode utilizar exclusivamente para obter informação ou ver o que os outros fazem.Aqui está o factor que leva à afirmação precedente. Ou seja, se a Internet é um meio onde todos podem participar, também é um meio onde se escreve para todos. Um escreve para todos e todos escrevem para todos. Podemos então dizer que a Internet é um meio de comunicação de massa, que estabelece a relação das massas para as massas.

Declaração de Início

Aqui, procura-se explorar a ideia de que os novos media não vieram tirar o lugar aos antigos mass media, mas apenas complementá-los, mantendo alguns aspectos de comunicação para massas e introduzindo a interactividade. Por outro lado, verifica-se que a Internet (disseminada por vários aparelhos como o computador e o telemóvel) concentra todos os novos media (interactivos), sem com isso os substituir.